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A literatura policial é caracterizada, regra geral, pela presença, na sua estrutura narrativa, de (pelo menos) um crime, da sua investigação e da revelação do malfeitor. Neste género literário, o foco remete para o processo de elucidação do mistério, empreitada a cargo de um detective, seja ele profissional ou amador. A essência da narrativa policial é a busca da identidade desconhecida, pela totalidade dos indícios, achando-se sempre (ou quase sempre) o criminoso entre quem menos se espera, ou suspeita, demonstrando que não pode haver crime perfeito, logo, não há lugar para a impunidade, isto é, para o crime sem punição, como sucede habitualmente nas obras de Agatha Christie e Erle Stanley Gardner.
Todavia, em «Crimes Sem Rosto» não se impõe a fórmula que exige a presença de um crime e do respectivo investigador para o desvendar. Haja ou não haja detectives ou personagens com funções similares envolvidos, pode criar-se um bom enredo com contornos policiais. Independentemente da comparência (ou inexistência) do investigador que apresenta soluções, privilegia-se, nos textos que compõem esta Antologia de Contos Policiais, escritos por 18 autores lusófonos, a presença de um ou de vários crimes “sem rosto”, cujo mistério é ou pode ser conhecido apenas pelo leitor. Mais importante do que a solução do crime, ou a revelação do criminoso, é a existência do crime que não é desvendado na sociedade em que se insere, logo, que não tenha um rosto visível, apesar de, com bastante frequência, os mentores desses crimes deixarem transparecer ao leitor, nalgum momento, as suas façanhas.